A produção 100% curitibana Coração de Neon marca a estreia do diretor Lucas Estevan Soares no cinema – FILMES, por Rudney Flores

 em Colunistas, Cultura, Rudney Flores

Diretor, roteirista, ator, montador e compositor. Lucas Estevan Soares assumiu todos esses papéis para sua estreia no cinema com Coração de Neon, filme que chegou no último final de semana a 150 salas do país em um esquema para lá de independente, através de sua própria produtora (IHC – International House of Cinema). Cinema de guerrilha, como ele mesmo define o processo de trabalho que rendeu uma produção praticamente 100% curitibana, filmada na capital paranaense, com atores e equipe técnica quase toda formada por pessoas oriundas da cidade.

Seguindo o que muitos artistas fazem, Soares resolveu contar uma história próxima de suas origens em seu primeiro trabalho na tela grande. Longe da Curitiba do cartão postal, conhecida internacionalmente como cidade modelo de urbanismo e preservação ambiental, Coração de Neon tem ambientação total no Boqueirão, tradicional e populoso bairro da zona sul da capital.

Lá vivem Fernando (o próprio diretor) e seu pai Laudércio (Paulo Matos), que comandam a Coração de Neon, empresa que entrega mensagens românticas para unir casais apaixonados. Para atender os clientes, eles usam o Boquelove – nome dado por Fernando que Lau abomina –, um velho Corcel todo decorado. Em um dia aparentemente tranquilo de trabalho, a dupla visita Andressa (Ana de Ferro), a pedido do policial Gomes (Wagner Jovanaci).

Mas as coisas não saem como o esperado e uma tragédia acontece. A partir daí, Fernando, ao lado do amigo Dinho (Wawa Black) e da própria Andressa, entra em uma perigosa e vertiginosa jornada que vai definir os rumos de sua vida.

Coração de Neon não é o primeiro a registrar a periferia de Curitiba e seus habitantes – os recentes Curitiba Zero Grau (2010), de Elói Pires Ferreira, e Mirador (2022), de Bruno Costa, são boas produções que também trazem personagens e situações que revelam um lado longe dos holofotes quando se fala da capital.

Soares acrescenta mais um retrato diferenciado da periferia de Curitiba, apresentando suas nuances. A visão é às vezes romântica e singela, como na festa de renovação de votos de um casal de idosos, que Fernando participa através da Coração de Neon, ou na festa de aniversário da filha de Dinho; em outras é mais pesada, como em um encontro violento de torcidas em um terminal de ônibus, algo comum e recorrente em dias de clássico Atletiba na capital. Temas universais e atuais, como a violência policial e a violência contra a mulher também estão presentes, assim como o sotaque característico do curitibano, recheado de “piás” e “pare!”. Tudo isso traz identificação.

Mesmo com imperfeições, características de um filme de um diretor novato e feito sem grandes recursos, Coração de Neon destaca autenticidade e honestidade e revela-se uma estreia promissora de Soares. Vale acompanhar como será sua trajetória futura. Cotação: Bom.

Trailer de Coração de Neon:

 

Crédito da imagem: Divulgação/IHC

 

Rudney Flores é jornalista formado pela PUCPR, assessor de imprensa e crítico de cinema, com resenhas publicadas nos jornais Gazeta do Povo e Jornal do Brasil.

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