A Realeza – COLUNA RECEITA DE ESCRITA, por Cláudia Moreira

Meu rei está passando… e, ao lado, sua rainha. Majestosos. Os carros param para vê-los andar pelas ruas. Até as bicicletas deixam de rodar na ciclovia como se elas se rendessem ao encanto do casal. É um cortejo ou parece ser. Meu rei sorri, acena e agradece aos transeuntes. Lentamente, as majestades cumprimentam com a cabeça as gentilezas. Fazem o trajeto de 12 minutos a pé, deixando as paredes protetoras do castelo-casa para irem em direção ao mar. Eu vou ali, segurando o manto de ambos, com toalhas, cadeiras e protetor solar, observando a cena. Uma simples coadjuvante da história. Meus olhos não perdem um minuto dos detalhes e se deliciam com as sutilezas.

Meu rei está feliz. Recebe um telefonema de alguém que relata se lembrar de bons momentos com ele e com sua inseparável rainha. É mais uma oportunidade para os dois conversarem e se olharem. Eles se entendem sem palavras. A realeza é assim, não é? Escuta mais do que fala. Talvez, esse seja o caminho da sabedoria e da prosperidade. Quem sabe?

A vendedora de empada se aproxima e se ajoelha para mostrar seus produtos. Reis não andam com dinheiro. Ela diz que mais tarde alguém acerta o valor e faz questão de dar duas empadas a eles para provarem a gostosura e atestarem a qualidade de seus produtos. Os dois representantes da realeza agradecem, comem e garantem que aquela iguaria é a melhor de todas.

O desfile de vendedores-súditos inicia. Picolés, amendoim, marmitas, bebidas… Eles provam de tudo e elogiam a todos. Tudo ao redor parece ter outra cor. O sol até é mais brilhante perto deles. Pessoas se mostram mais felizes. Será que eu estou ficando doida? Que reino é este, meu Deus? Custo a acreditar que isso é possível. Mas é.

Meu rei está em sua plenitude. Sua rainha também. Eles pedem para voltar ao castelo-casa. Está muito quente. Recolho o manto, as toalhas, a cadeira e guardo o protetor solar. Eles já estão adiantados, um pouco mais à frente. Seus passos são dados sem pressa, com a elegância da idade dos que já correram demais. Paro e agradeço por estar servindo ao casal.

Meu rei e minha rainha estão de mãos dadas, sorrindo, indo… Preciso correr. As majestades não costumam esperar por ninguém. Mas minhas majestades são um ponto fora da curva. Eles se viram com delicadeza e apenas com o olhar me abraçam, me acolhem e me garantem que a vida é colorida mesmo e que eles são prova viva disso.
Meu rei está passando pela vida e minha rainha, também, sempre ao lado dele.

Ilustração: @igor.baldez

Cláudia Moreira é mestranda em Escrita Criativa (Uniandrade/PR), formada em Letras e Jornalismo (Uniceub- DF), com especializações em Revisão e Produção Textual (FAE-PR), Desenvolvimento Sustentável (UNB-DF) e Master em Jornalismo (IICS-SP). Tem vários livros publicados, entre eles, Receita de Escrita e Revisando a Profissão de Revisor. É sócia-proprietária da Editora Ponto Vital (PR) e professora de Escrita do Solar do Rosário em Curitiba.