Abraços no Aeroporto – COLUNA RECEITA DE ESCRITA, por Cláudia Moreira
Fiquei de olho no abraço do casal. Longo, gostoso, feliz. Eu estava no aeroporto esperando meus pais chegarem de viagem. Notei como é maravilhoso caber nos braços de outra pessoa, ser o tamanho certo, que encaixa. E sabe que o abraço é meio elástico? Ele abarca o mundo e também um bebezinho. Nunca tinha percebido essa característica. Parei para ver o amontoado de sorrisos, de amor, de boas vibrações naquele momento específico. O tempo congelou um pouco para me mostrar quão preciosos e transformadores são os instantes de felicidade.
A menina se jogou nos braços do avô; o rapaz, cheio de dentes, apertou com vontade o amigo; a mulher não queria sair do embarque e pegou um papo sem ponto final ali mesmo, no meio dos viajantes; o cachorrinho estava eufórico com o tutor que acabara de avistar; casais se cumprimentando com beijos e com abraços demorados e fortes. Fiquei empolgada e abri o espaço do coração para o sentimento. Não é sempre que deixamos o coração se mostrar, não é?
Catei uma placa roxa e amarela com os seguintes dizeres: “bem-vindos a Vitória”. Coloquei-me bem de frente à saída e, antes mesmo que meus velhinhos aparecessem, já treinava com os passageiros que atravessavam a porta. Alguns diziam que amavam a cidade das águas; outros, apenas sorriam. Ninguém me abraçou!
Fiquei com uma certa inveja dos abraços que eu via e não recebia. Caprichei na pose com a placa nas mãos. Eu me sentia a própria “miss simpatia”. E nada de ninguém me enxergar. Só viam os dizeres escritos e sorriam. Fui murchando que nem uma florzinha sem água. Mas como nada é para sempre, fui salva pelos meus pais caminhando em minha direção. Começaram a rir lá de longe. Eu e a placa os esperavam. Eu, ansiosa, pelo carinho. Acho que os cachorros sentem isso pelos seus humanos queridos. Não estava me aguentando…
Até que os velhinhos chegaram pertinho, já me chamando de doida, e me afogaram no melhor abraço do mundo. Morri por minutos e renasci cheia de energia para retomar as atividades do dia a dia. A inveja foi embora, mas deixou o coração trancado de novo, para não se mostrar demais. A experiência foi tão maravilhosa que não vejo a hora de buscar VOCÊ no aeroporto. Seja bem-vindo a Vitória!
Ilustração: @igor.baldez
Cláudia Moreira é mestranda em Escrita Criativa (Uniandrade/PR), formada em Letras e Jornalismo (Uniceub- DF), com especializações em Revisão e Produção Textual (FAE-PR), Desenvolvimento Sustentável (UNB-DF) e Master em Jornalismo (IICS-SP). Tem vários livros publicados, entre eles, Receita de Escrita e Revisando a Profissão de Revisor. É sócia-proprietária da Editora Ponto Vital (PR) e professora de Escrita do Solar do Rosário em Curitiba.