Alê Abreu apresenta metáforas de temas atuais na animação Perlimps – FILMES, por Rudney Flores
Um dos principais nomes da animação brasileira, o diretor Alê Abreu lança nesta semana nos cinemas Perlimps, o sucessor de O Menino e o Mundo, longa-metragem que lhe rendeu uma indicação ao Oscar de melhor animação, em 2016.
A nova história apresenta protagonistas crianças com formas antropomórficas: Claé (voz de Lorenzo Tarantelli, dublador do protagonista da séria Young Sheldon) é uma mistura de lobo com raposa, enquanto Bruô (voz de Giulia Benite, a Mônica da franquia Turma da Mônica) tem características de urso e leão.
Ambos são agentes secretos de reinos rivais – Claé, do Sol, e Bruô, da Lua – e possuem a mesma missão: enfrentar e vencer a ameaça dos Gigantes, que estão destruindo com poderosas máquinas o Bosque Encantado, local onde vivem. Para isso, eles vão precisar se unir para encontrar os Perlimps, seres mágicos que têm o poder de trazer a paz para a floresta. Outro personagem importante da história é o João de Barro, dublado pelo veterano ator Stênio Garcia.
Também autor do roteiro, Abreu apresenta algumas metáforas, destacando temas que encontram paralelos com a realidade atual, tanto do Brasil como no mundo. A parte ecológica, com a destruição do bosque, remete a piora das condições da Amazônia nos últimos anos, os problemas nas barragens no país, culminando com a recente tragédia yanomani, cuja descoberta coincide com o lançamento do desenho. A guerra perpetrada pelos Gigantes representa os diversos conflitos no mundo, a intolerância que vem dominando muitas relações internacionais, além do clima dividido do próprio Brasil nos últimos anos.
Na parte da animação, o diretor segue no 2D, já destacado no filme anterior, e apresenta novamente um belo trabalho em cores de tom forte em várias sequências. Ainda há uma divertida e leve trilha sonora, com destaque para a música incidental baseada na bonita e clássica canção “Bola de Meia, Bola de Gude”, de Milton Nascimento e Fernando Brant.
Perlimps apresenta alguns problemas de ritmo, com um didatismo além da conta para explicar algumas questões, o que faz com que a história demore a avançar, cansando os espectadores em certos momentos. Mas suas qualidades ainda se sobressaem, tornando-o uma boa diversão para toda a família e idades. As crianças devem se identificar com Claé ou Bruô, curtir o desenho bem realizado e a trilha, e as temáticas apresentadas também conseguem fazer a ponte com os adultos. Cotação: Bom.
Trailer de Perlimps:
Crédito da imagem: Divulgação/Vitrine Filmes
Rudney Flores é jornalista formado pela PUCPR, assessor de imprensa e crítico de cinema, com resenhas publicadas nos jornais Gazeta do Povo e Jornal do Brasil.