Bora Pocar? – COLUNA RECEITA DE ESCRITA, por Cláudia Moreira

Nunca tinha escutado essa expressão. Na verdade, eu estava passando em uma loja e vi uma camiseta escrita: bora pocar? Só pode ser indecência, pensei. Saí atrás de capixabas-raiz para me detalhar o conceito daquelas palavras. O pior é que estava louca para comprar a blusa, mas como colocar no meu peito algo que não sabia o significado? Impossível.

Os “universitários” logo riram da minha pergunta inocente: sabe o que é “bora pocar”? Eu me senti meio sem graça e, de cara, reforcei a ideia de que as duas palavrinhas eram alguma besteira braba. Cabeça suja essa minha!

Adoro quando a explicação vem por meio de novas frases… o sol tá pocando hoje, entendeu? Espocando? Não. Fervendo, saiu com tudo, quente. Compreendi. Bora pocar é vamos ferver? Não conseguia pegar a alma da coisa. Precisei de algo mais “papo reto”.

Nova explicação: você está em um lugar e quer “sair fora” dali. Aí você capricha no “bora pocar daqui”? Sabe criança quando descobre os dedinhos dos pés ou Einstein quando fechou a teoria da relatividade? Deve ter sido esse sentimento que reproduzi. Eureka! Conhecer novos lugares e novas culturas é algo que me apetece. É um alimento para minha criatividade. E eu me moldo à cidade em que vivo. Em Curitiba, por exemplo, eu me sentia a própria capivara (uma brincadeira minha porque lá tem capivara demais da conta). Em Vila Velha, terei de me transformar em uma moqueca. Afinal, já decorei o dizer: “moqueca é capixaba. O resto é peixada”.

Bem, voltando ao meu pocar. Corri na loja para adquirir meu “bora pocar”. Queria ir ao show do Tiaguinho com minha nova peça capixaba. Ao chegar, reparei que não estava mais na vitrine. Fora vendido. A moça ficou triste e saiu com essa: puxa, agora você não vai poder ir “pro rock”. Não, salientei, é o show do Tiaguinho. Então, reforçou ela: aqui, para qualquer show, vale a expressão: ir para o rock. Mais uma lição aprendida. Acho que já estou pegando o jeito capixabear de ser. Final da história: Fui ao rock do Tiaguinho e não queria pocar de lá. Estava bom demais!

Ilustração: @igor.baldez

Cláudia Moreira é mestranda em Escrita Criativa (Uniandrade/PR), formada em Letras e Jornalismo (Uniceub- DF), com especializações em Revisão e Produção Textual (FAE-PR), Desenvolvimento Sustentável (UNB-DF) e Master em Jornalismo (IICS-SP). Tem vários livros publicados, entre eles, Receita de Escrita e Revisando a Profissão de Revisor. É sócia-proprietária da Editora Ponto Vital (PR) e professora de Escrita do Solar do Rosário em Curitiba.