Damien Chazelle apresenta o ambicioso Babilônia – FILMES, por Rudney Flores
Cineasta mais novo a ganhar um Oscar de melhor direção por La La Land – Cantando Estações, Damien Chazelle apresenta seu projeto mais ambicioso em Babilônia, principal estreia da semana nos cinemas brasileiros. A produção é mais uma a homenagear o cinema, uma viagem de mais de três horas ambientada no período de transição dos filmes mudos para os falados, no fim da década de 1920.
Foi uma época também de excessos, demonstrados no amplo prelúdio da história, passado na mansão do milionário produtor de Hollywood Don Wallach (Jeff Garlin), que organiza festas devassas, regadas a muitas drogas, sexo, escatologia, excentricidades e música.
O ano é 1926 e, nesse cenário, são apresentados os personagens centrais: a aspirante a atriz Nellie LaRoy (Margot Robbie, de O Lobo de Wall Street), o astro Jack Conrad (Brad Pitt, vencedor do Oscar de coadjuvante por Era Uma Vez em… Hollywood) e o faz-tudo Manny Torres (Diego Calva, da série Narcos – México), além de alguns coadjuvantes como a colunista social Elinor St. John (Jean Smart, da série Hacks), a performer e cartazista de filmes mudos Lady Fay Zhu (Li Jun Li, da série O Exorcista) e o músico Sidney Palmer (Jovan Adepo, de Uma Cerca entre Nós).
Os filmes mudos de Hollywood geravam muito dinheiro nesse período. O cinema era novo e estava se tornando popular por ser barato, era a principal diversão para as pessoas – mesmo após a crise econômica de 1929, a área permaneceu forte, pois o público precisava de uma distração para as dificuldades do dia a dia.
Nellie – personagem inspirada na atriz de filmes mudos Clara Bow, que também teve uma vida difícil antes de ficar famosa –, consegue uma ponta em uma produção da época, que eram realizadas de forma caótica como destacado no filme, e vira uma nova estrela das telas. Já Manny cai nas graças de Conrad, e vai galgando posições na indústria do cinema até virar produtor. E o famoso ator segue fazendo muito sucesso e tendo casamentos complicados. Tudo muda em 1927 com o lançamento de O Cantor de Jazz, primeiro filme sonorizado da história.
A partir desse momento, notadamente inspirado no clássico Cantando na Chuva – que mais para o final de Babilônia é homenageado, assim como outras produções de todas as épocas em um interessante caleidoscópio –, Chazelle passa a apresentar a decadência de seus personagens e da indústria que representavam.
Quem se destaca no geral é Margot Robbie. Lembrando o furacão da anti-heroína Arlequina, que vive nos filmes da Warner/DC, ela apresenta mais uma intensa interpretação, confirmando mais uma vez ser uma das principais atrizes da atualidade. Chazelle investe bem na música e na caracterização de época, mas assim como a própria história que criou, perde-se em alguns defeitos e excessos.
Com exceção do protagonista de Pitt, o diretor, que também é roteirista da produção, não consegue desenvolver bem os demais personagens. Nellie e Manny são até envolvidos em uma exagerada e desnecessária sequência de gângsteres – que alonga demais a trama, justificando sua realização apenas para encaixar o ator Tobey Maguire, produtor do filme, no roteiro. Já a oriental Lady Fay e o negro Palmer, que poderiam ter ganho mais espaço, parecem ter sido criados apenas para o cineasta respeitar uma espécie de cotas de inclusão de minorias, depois de receber pesadas críticas por quase não apresentar personagens negros em La La Land.
O lado positivo é que Chazelle não tem medo de arriscar, e com o poder ganho na indústria com os seis Oscars de La La Land, deve seguir realizando novos projetos e, quem sabe, continuar ousando. Cotação: Bom.
Trailer de Babilônia:
A nova boneca do terror
Com Chucky, e mais recentemente Annabelle, filmes com bonecos assustadores formam mais um subgênero das produções terror. A novidade neste tipo de filme é M3gan, filme dirigido pelo quase desconhecido Gerard Johnstone (Housebound), mas que tem a assinatura na produção de James Wan, conhecido pelo envolvimento – como produtor ou diretor – nas franquias de terror/suspense Jogos Mortais, Invocação do Mal, Sobrenatural, além da própria Annabelle. O destacado cineasta (também diretor da franquia Aquaman) ainda é o responsável pela história de M3gan, roteirizada por Akela Cooper, uma parceria que se repete depois do sucesso Maligno.
Mas, diferente dos filmes de Chucky ou Annabelle, a nova produção não é baseada em espíritos, fantasmas ou possessões, e sim nos possíveis perigos das novas tecnologias, e também os temores despertados pelo uso cada vez maior da IA (Inteligência Artificial), tema já retratado em filmes como os da franquia O Exterminador do Futuro – a cena final de M3gan é uma citação ao final do primeiro filme da série que confirmou Arnold Schwarzenegger como estrela das telas; há ecos também de 2001 – Uma Odisseia no Espaço e o computador (HAL 9000) que enlouquece.
No centro da história estão Gemma (Alisson Williams, de Corra! e da série Girls) e sua sobrinha Cady (Violet McGraw). A menina perde os pais em um acidente de carro e vai morar com a tia, uma criadora de brinquedos de uma grande empresa internacional. Sem saber lidar com Cady, Gemma decide testar com ela um novo projeto que está desenvolvendo, o da boneca M3gan (Model 3 Generative Android), um robô com IA que interage com a criança e vai se desenvolvendo ao analisar suas atitudes. Como é esperado em um filme do gênero, em algum ponto as coisas saem do controle, e Gemma e Cady terão que lidar com uma androide que se torna uma verdadeira psicopata.
Apesar de não ter o lado galhofeiro dos filmes de Chucky, M3gan também se apoia no humor, inserindo críticas ácidas à dependência humana cada vez maior da tecnologia, mas sem nenhum constrangimento em parecer algo extremamente bobo em certos momentos – como na sequência em que M3gan persegue um personagem fazendo dancinhas típicas do Tik Tok, criada justamente para viralizar nas redes sociais. A boneca é um destaque à parte, pois mistura efeitos especiais com a interpretação corporal da atriz-mirim Amie Donald e a voz da atriz Jenna Davis.
Quem aprecia o terror/suspense possivelmente vai se deleitar com a nova personagem, que já tem garantida uma sequência – M3gan 2.0 já está programado para o início de 2025; quem prestar atenção na trama, vai perceber que o mote para um novo filme foi apresentado. Cotação: Bom.
Trailer de M3gan:
Outras estreias
Baseado em fato reais, Holy Spider, coprodução europeia (Dinamarca, Alemanha, Suécia e França) comandada pelo diretor iraniano (Ali Abbasi, do surpreendente Border), é um suspense sobre um assassino que mata prostitutas na cidade sagrada de Mashad, no Irã. Conhecido como Spider Killer, ele acha estar em uma missão sagrada contra o pecado.
A jornalista Rahimi (Zar Amir-Ebrahimi, vencedora da Palma de melhor atriz do Festival de Cannes 2022 pelo papel) investiga o caso e tenta descobrir a identidade do matador, enfrentando muitos perigos no submundo de Mashad. O filme estreia somente no Cine Passeio.
Trailer de Holy Spider:
O drama Regra 34, novo filme da diretora Júlia Murat (Histórias que Só Existem Quando Lembradas, Pendular), destaca um universo todo sexual de erotismo e violência através da história da personagem Simone (a estreante Sol Miranda), jovem defensora pública que atua em casos de abusos contra mulheres. Em casa, ela vive uma relação atribulada com sua amante, e ainda tem uma vida no mundo virtual, na qual faz strip-tease em um site. A produção também tem lançamento apenas no Cine Passeio.
Trailer de Regra 34:
O diretor Felipe Joffily tem mais um filme lançado este ano: Fervo; o outro, Nas Ondas da Fé, estreou semana passada e ainda continua em cartaz. A nova comédia nacional conta a história do casal Leo (Felipe Abib) e Marina (Georgianna Goes), que se muda para um casarão com três fantasmas irreverentes. O local era antes uma casa de festas chamada Fervo e os personagens do agora outro mundo precisam resolver alguns problemas relacionadas a ela.
O elenco é recheado de atores conhecidos em participações especiais: Joana Fomm, Júlia Lemertz, Tonico Pereira, Suely Franco, Rosi Campos, Marcelo Adnet e Paulo Vieira.
Trailer de Fervo:
A outra estreia nacional da semana é a animação Chef Jack – O Cozinheiro Aventureiro, do diretor Guilherme Fiúza Zenha (O Menino no Espelho). O personagem principal, dublado por Danton Mello, participa de uma grande aventura em uma competição gastronômica realizada nas Ilhas Culinárias.
Trailer de Chef Jack – O Cozinheiro Aventureiro:
Crédito da foto: Divulgação/Paramount Pictures
Rudney Flores é jornalista formado pela PUCPR, assessor de imprensa e crítico de cinema, com resenhas publicadas nos jornais Gazeta do Povo e Jornal do Brasil.