Deu ou não Errado? – COLUNA RECEITA DE ESCRITA, por Cláudia Moreira

 em Cláudia Moreira, Colunistas, Cultura

Viagem planejada há um ano. Itália é o destino. Tudo pago. Nada poderia dar errado…

Faltando menos de uma semana para viajar, eu estava radiante. Resolvi ir à praia. Fiz minha caminhada e deitei na cadeira para pegar um sol. De vez em quando, levantava e me deleitava nas águas geladas do Espírito Santo. Filei dois picolés de tapioca dos meus pais e, assim, fiquei sentadinha, conversando banalidades. Na hora de levantar e ir embora, quem disse que a coluna me obedecia? Precisei da ajuda do marido para ficar em pé. Uma fisgada, uma dor aguda e o primeiro pensamento: a minha viagem.

Viagem planejada há um ano. Itália é o destino. Tudo pago. Nada poderia dar errado…

Fui durona e ainda caminhei até o restaurante. Era domingo de Páscoa. Comemoramos a vida, como sempre, e para levantar da mesa, foi outro custo. Em casa, tomei logo um relaxante muscular e deitei. Quem disse que eu conseguia sair da cama? A dor era tanta que eu chorava escondida. Passei o resto do dia encostada entre travesseiros.

Viagem planejada há um ano. Itália é o destino. Tudo pago. Nada poderia dar errado…

Corri, quer dizer, me arrastei até a fisioterapia na segunda. Massagem, infravermelho, exercícios. O incômodo estava ali. O que fazer? Faltavam apenas 4 dias para embarcar. Arrumar mala, nem pensar! Não havia nenhuma condição de me movimentar para tirar roupas, abaixar, puxar, guardar. Essa tarefa tinha que esperar um pouco.

Viagem planejada há um ano. Itália é o destino. Tudo pago. Nada poderia dar errado…

3 dias para encarar 11 horas de avião. Comecei a ficar com medo. E agora? Para piorar, um amigo contou a história de um rapaz que queria ser atleta, ciclista, e teve uma frieira que quase o deixou sem pé. Ele reforçava a ideia de que Deus tirara a força do pé para que o caminho do garoto fosse outro. Hoje o ex-atleta é um baita religioso e tem uma saúde de ferro. Será que Deus quer mudar meu caminho? Tirar minha sustentação?

Viagem planejada há um ano. Itália é o destino. Tudo pago. Nada poderia dar errado…

2 dias. Fui pesquisar sobre a terapia do corpo. O que meu corpo estaria querendo falar comigo? Na medicina chinesa, a dor na lombar vem de um desequilíbrio energético. Até aceito porque eu sou um POUCO ansiosa. Li também que problemas nas costas indicam falta de apoio moral. A pessoa acredita que ninguém a ama. Será? Mãe, pai, irmãos, marido? Hummm…. descartei essa possiblidade de cara. E a última: a parte inferior das costas está relacionada à culpa e a conflitos. Também associada a dinheiro, falta dele? Culpa, todos nós temos, falta de dinheiro, idem. E o que fazer?

Viagem planejada há um ano. Itália é o destino. Tudo pago. Nada poderia dar errado…

1 dia. A dor está melhorando. Tenho meditado, conversado com meu corpinho, tomado remédio, exagerando na fisioterapia. Acho que vai rolar. Afinal, nada pode dar errado. Nestes dias de dor, agradeci por ter tido tempo para refletir sobre o que me sustenta hoje e por que eu estava/estou com medo? A fisgada muscular foi só um beliscão do papai do céu. Suponho que ele queria que eu parasse para notar que tudo precisa de base, de fé, de amor. Ele não me tirou a força, só me colocou em um balanço e me deu uma empurradinha. O medo de perder o chão é que me fez duvidar.

Viagem planejada há um ano. Itália é o destino. Tudo pago. Nada poderia dar errado…

E não deu!

 

Ilustração: @igor.baldez

 

Cláudia Moreira é mestranda em Escrita Criativa (Uniandrade/PR), formada em Letras e Jornalismo (Uniceub- DF), com especializações em Revisão e Produção Textual (FAE-PR), Desenvolvimento Sustentável (UNB-DF) e Master em Jornalismo (IICS-SP). Tem vários livros publicados, entre eles, Receita de Escrita e Revisando a Profissão de Revisor. É sócia-proprietária da Editora Ponto Vital (PR) e professora de Escrita do Solar do Rosário em Curitiba.

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