James Gray destaca história com traços autobiográficos em Armageddon Time – FILMES, por Rudney Flores

 em Colunistas, Cultura, Rudney Flores

Assim como Kenneth Branagh e Paul Thomas Anderson visitaram recentemente períodos de sua infância ou adolescência, respectivamente nos indicados ao Oscar Belfast e Licorice Pizza, o diretor James Gray (Ad Astra – Rumo às Estrelas, Amantes) resgata uma parte de sua história em Armageddon Time, filme que chega esta semana a Curitiba com sessões apenas no Cine Passeio. Com coadjuvantes de luxo como os oscarizados Anthony Hopkins (Meu Pai) e Anne Hathaway (Os Miseráveis), a produção é uma das cotadas a indicações para a premiação da Academia de Hollywood, no próximo ano.

O protagonista da história é o garoto Paul Graff (Banks Repeta), alter ego do cineasta (que assina também o roteiro), que no ano de 1980 faz amizade com o jovem negro Johnny (Jaylin Webb), um colega de turma na escola pública em que estuda – os jovens atores têm um trabalho destacado. Ambos rebeldes, os meninos sofrem castigos do professor da sexta série e se envolvem em algumas confusões. Por serem de mundos diferentes – Paul vem de uma família judaica de classe média e Johnny vive com a avó e poucas condições –, a relação logo se torna complicada e praticamente termina quando um crime leva apenas à punição do menos favorecido, revelando o racismo sempre presente na sociedade americana.

Questões macro como esta são pinceladas na trama, assim como a ascensão da direita americana pela eleição de Ronald Reagan à presidência dos Estados Unidos no ano retratado na trama – o Armageddon do título se refere ao período da Guerra Fria com a União Soviética, muito acirrado na era Reagan, trazendo sempre o medo de um conflito nuclear.

Esse cenário retornou aos país nos últimos anos com a nova chegada da direita ao poder com a eleição de Donald Trump e sua ainda forte presença na política norte-americana mesmo após deixar o cargo. No filme, os Trump participam de algumas cenas com Fred e Maryanne Trump (vivida em uma participação especial por Jessica Chastain, Oscar de melhor atriz por Os Olhos de Tammy Faye), respectivamente pai e irmã do ex-presidente, mostrando a forte presença da família no colégio particular para o qual Paul foi enviado, após os problemas com Johnny.

Mas o foco do filme fica mesmo com Paul, sua forte e terna relação com o avô (Hopkins), os embates com a mãe (Hathaway) e o pai (Jeremy Strong, de A Grande Aposta) e o desejo de ser artista, além da amizade com Johnny, que lhe apresenta o mundo como realmente é, trazendo ensinamentos de uma forma tocante. Cotação: Bom.

Trailer de Armageddon Time:

 

Natal violento

Desde o começo, com citações rápidas, Noite Infeliz, “comédia de ação” do diretor Tommy Wirkola (João e Maria – Caçadores de Bruxas), revela suas inspirações: os dois primeiros filmes da franquia Duro de Matar, que elevaram Bruce Willis a astro de filmes de ação, no final da década de 1980, e a também franquia Esqueceram de Mim, que marcou a carreira do ex-astro-mirim Macaulay Culkin.

Mas em vez do John McClane, personagem de Willis, o herói da nova história de Natal será um Papai Noel diferente, extremamente violento quando necessário. O protagonista, vivido por David Harbour (o Guardião Vermelho do filme Viúva Negra, da Marvel), inicia a trama amargurado com sua missão de vida, já que as crianças mudaram muito nos últimos anos, exigindo sempre mais presentes. E decide que será seu último Natal atendendo os desejos dos que foram bonzinhos durante o ano.

Uma dessas pessoas é a menina Trudy (Leah Brady), que está passando a véspera da marcante data na casa da avó, a poderosa e rica Gertrude Lightstone  (Beverly D’Angelo, da antiga franquia Férias Frustadas). Justamente quando Papai Noel vai entregar o presente da garota, um grupo de bandidos está rendendo os Lighstone para realizar um grande roubo. Altamente armados, os vilões vão encontrar um sério obstáculo no infiltrado “Bom Velhinho”, que decide enfrentá-los ao estilo McClane – não é muito bem explicado, mas, no passado, Papai Noel parece ter sido uma espécie de um viking sanguinário, que arrebentava os crânios dos inimigos com um martelo; 1.100 anos depois, ele reaviva essa persona.

Vale lembrar que as comédias estreladas por Culkin e criadas pelo saudoso John Hughes eram quase cartoons em formato live action, com os vilões sofrendo horrores que matariam qualquer pessoa, mas que sempre continuavam em frente como se estivessem em desenhos do Tom e Jerry, do Pernalonga ou do Papa-Léguas – e sua diversão vinha daí. E que a violência dos filmes de ação de Willis estavam dentro do contexto dos anos em que foram feitos.

Mas Noite Infeliz copia ideias e até sequências de Duro de Matar e Esqueceram de Mim (este através da “doce” Trudy) com muito mais violência, com direito a muito sangue, pescoços quebrados, cabeças esmagadas, corpos explodidos ou queimados. E não só o personagem de Harbour se “sacia” com as mortes, outros terão seus momentos violentos, pois os Lightstone não são nada “bonzinhos” na realidade, a começar pela matriarca boca-suja.

Não há nada da violência estilizada dos filmes de Quentin Tarantino ou mesmo da atual franquia de sucesso John Wick, mas um quase exercício de sadismo, que está hoje em dia em vários filmes e games e até agrada determinado tipo de público. Há até uma tentativa de colocar alguns momentos divertidos ou de emoção natalina na trama, mas tudo fica diluído e perdido no meio de tanto sangue e corpos. Cotação: Ruim.

Trailer de Noite Infeliz:

 

Crédito da foto: Divulgação/Universal Pictures

 

Rudney Flores é jornalista formado pela PUCPR, assessor de imprensa e crítico de cinema, com resenhas publicadas nos jornais Gazeta do Povo e Jornal do Brasil.

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