Laboratório das Palavras – COLUNA RECEITA DE ESCRITA, por Cláudia Moreira
O laboratório é um lugar para se analisar as coisas, estudar, criar e pesquisar, correto? Eu sempre gostei de um cantinho assim. Na escola, havia o laboratório de química, onde fazíamos experimentos e misturávamos elementos. Havia todo um preparo antes de entrarmos neste ambiente, para mim, mágico. As roupas, os óculos, os instrumentos… o cheiro era inebriante e o dia passava envolto a uma alquimia gostosa.
Depois, troquei a química pela saúde. Queria ser médica. O laboratório tinha agora um outro charme. Todos de colete branco, luvas e a missão de desvendar a vida, olhando células e tecidos de animais, aprendendo a tirar sangue, em um espaço que aguçava a curiosidade e mesclava os sentidos com o éter.
A profissão de médica desistiu de mim e eu parti para o laboratório das palavras. Foi difícil encontrá-lo. Tentei achar o meu lugar criativo na biblioteca, no meu quarto, nas ruas, na cafeteria. Gostei de alguns deles e ainda usufruo de suas comodidades na hora de escrever. No entanto, o laboratório perfeito para mim – por favor, não ria –, é o elevador.
Adotei o elevador como meu laboratório. Ali dentro analiso comportamentos, observo pessoas, invento meus personagens, imagino histórias. Parece loucura, mas este espaço-caixa me faz viajar para um mundo surreal. Todo dia encontro gente diferente de mim, com cacoetes, sorrisos, mau humor, raiva, reclamações e boas narrativas. São minutos ou segundos para sorver a alma do outro. E tenho que ser rápida, senão, perco a riqueza de cada um.
No elevador, sinto-me, um pouco, vampira, sugando a essência dos que passam por ali. As imagens vão se formando na minha cabeça, como peças soltas que, a uma ordem apenas, começam a se movimentar e a criar histórias. Não há um dia sequer que não entre em um elevador. Não há um dia sequer que eu não brinque de ser a bruxa das palavras ou a fada da escrita. Sei lá.
Meu laboratório varia de tamanho, de lugar, de convidados, de cidade e de país. Como boa geminiana, jamais aguentaria o mesmo espaço por muito tempo. Por isso, inovo. Os elevadores do mundo esperam por mim! Meu laboratório é itinerante e, até mesmo, sozinha, consigo construir meus enredos. Que tal fazer esse exercício de criação e imaginar histórias? Eu empresto meu laboratório para você. Embora pequeno, é grande; embora sem graça, é riquíssimo. É só fechar o olho e entrar neste mundo lúdico comigo. Topa?
Ilustração: @igor.baldez
Cláudia Moreira é mestranda em Escrita Criativa (Uniandrade/PR), formada em Letras e Jornalismo (Uniceub- DF), com especializações em Revisão e Produção Textual (FAE-PR), Desenvolvimento Sustentável (UNB-DF) e Master em Jornalismo (IICS-SP). Tem vários livros publicados, entre eles, Receita de Escrita. É sócia-proprietária da Editora Ponto Vital (PR) e professora de Escrita do Solar do Rosário em Curitiba.