O Que Corrói um Grande Amor? – COLUNA RECEITA DE ESCRITA, por Cláudia Moreira

 em Cláudia Moreira, Colunistas, Cultura

Você consegue sentir a dor que carrega o verbo corroer? A palavra traz dentro dela uma carga forte de destruição, de desintegração e de deterioração. Será que você visualiza o verbo como eu? Imagino o ácido nas entranhas, consumindo cada cantinho, não deixando pó sobre pó. Contorço-me em lágrimas, imaginando o fim de um relacionamento, corroído, aos poucos, pelo ácido da raiva, do ódio e de tantos sentimentos ruins que se infiltram no coração e exterminam o que há de mais lindo no ser humano: o amor.

A dor da corrosão é ainda maior quando paramos para observar quando e por que começamos a tomar o ácido do desamor. Sabe aquele dia que você bateu o carro e, com raiva, descontou a fúria naquela pessoa tão querida? Ali, você abriu um “buraquinho” por onde o veneno será colocado aos poucos. Depois, você deu uma palavra atravessada, esqueceu-se do aniversário dela, não se lembrou da lhe dar um beijo de boa noite, não planejou um tempo livre para jogarem conversas ao vento. A rudeza do dia a dia virou cupim na madeira, aquele bichinho-inseto que come tudo por dentro, devagarzinho, até que ocorre o desabamento.

Desabar e corroer. Verbos irmãos na malvadeza? Interessante pensar que nós mesmos ministramos as doses diárias do ácido, sem ao menos atentarmos para o perigo. O grande amor é minado porque temos preguiça de batalharmos para sermos melhores pessoas todos os dias dentro de casa. Custa tanto assim?

Perdemos tanto tempo com os afazeres, com o trabalho, com os erros do outro, com as redes sociais, com o orgulho e as picuinhas! Se a pessoa que está com a gente é tão importante, por que não a priorizamos? Tão simples, não é? Mas, nós preferimos injetar nosso veneno diário, alimentar os cupins e sermos corroídos. Somos complicados por demais!

A falta do diálogo, a não atenção aos detalhes, o esquecimento da gentileza, os maus hábitos, as palavras que machucam, a mesmice, a ausência de projetos conjuntos… Puxa, será que, ao invés de veneno, não poderíamos injetar felicidade, leveza, amor dentro da gente?

Meu grande amor está aqui na minha frente, escrevendo um artigo com este mesmo título, e sei que vamos ler nossa produção juntos, daqui a pouquinho. Acredito e quero aprender, a cada dia, a cultivar mais flores naquele “buraquinho” aberto. Daqui a algum tempo, teremos um jardim cheiroso e colorido. Nada de corrosão e nem de destruição. A hora do plantio é agora e não há tempo a perder.

Ilustração: @igor.baldez

 

Cláudia Moreira é mestranda em Escrita Criativa (Uniandrade/PR), formada em Letras e Jornalismo (Uniceub- DF), com especializações em Revisão e Produção Textual (FAE-PR), Desenvolvimento Sustentável (UNB-DF) e Master em Jornalismo (IICS-SP). Tem vários livros publicados, entre eles, Receita de Escrita. É sócia-proprietária da Editora Ponto Vital (PR) e professora de Escrita do Solar do Rosário em Curitiba.

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