O Voo do Pássaro – COLUNA RECEITA DE ESCRITA, por Cláudia Moreira

 em Cláudia Moreira, Colunistas, Cultura

Ele nasceu pequenino e indefeso. Aos poucos, foi criando força, comendo sozinho e não precisando de ajuda nenhuma. Não havia gaiolas, e sua liberdade estava assegurada. Desta forma, ele cresceu confiante de que tudo era possível e que só o céu era o limite. Mesmo assim, ele tinha um pouco de receio de voar alto demais e de cair.

A mãe o incentivava e o forçava a voos mais ousados. Ela apostava na capacidade daquele ser e acreditava que quanto mais esforço e mais preparação ele adquirisse, mais chances teria de ser feliz em suas acrobacias pela vida. Repetia a necessidade de ele estudar os planos de voo, de criar músculos físicos e emocionais e de confiar na sabedoria ancestral. O amor era a rede de proteção para os voos do passarinho-filho, e ele foi tomando consciência disso a cada batida de asa errada e a cada cabeçada em muros e vidros espalhados pelas selvas do mundo.

Até que surgiu o momento do primeiro grande voo: a cruzada do Atlântico. O pássaro-filho sentiu falta do aconchego familiar e do calor-afetivo brasileiro. No entanto, teve a primeira prova de que era autossuficiente, embora duvidasse de que conseguiria passar muito tempo sem o amparo e a acomodação no ninho de que tanto gostava. Voltou!
O destino não se aquietou e quis que o passarinho voasse novamente para longe. Agora seriam nove meses em novas terras. A adaptação foi mais difícil porque o clima não ajudava. As dificuldades criaram os músculos necessários para uma futura jornada mais para frente. Ele voltou!

A programação do universo não parava por ali e logo apareceu um desafio maior: uma nova cruzada de mares já navegados para terras italianas. Mais aprendizados foram adquiridos, mais músculos emocionais foram esculpidos na alma. O pássaro-filho voltou! Só que, desta vez, voltou diferente. Um olhar mais decidido do que queria e do que precisava fazer. As asas estavam fortes por causa das grandes ventanias que enfrentara. O voo também estava mais criativo, mais seguro. O passarinho-filho voltara pássaro-maduro.

A mãe observava a mudança e sorria. A vida era muito bela e a natureza perfeita. Agora ela poderia descansar um pouco. Seu filho estava pronto para voar sozinho. Ela, de longe, só acompanhava os voos cada vez mais altos, cada vez mais lindos e isso enternecia seu coração. Missão cumprida. Voa passarinho, voa longe!

 

Ilustração: @igor.baldez

 

Cláudia Moreira é mestranda em Escrita Criativa (Uniandrade/PR), formada em Letras e Jornalismo (Uniceub- DF), com especializações em Revisão e Produção Textual (FAE-PR), Desenvolvimento Sustentável (UNB-DF) e Master em Jornalismo (IICS-SP). Tem vários livros publicados, entre eles, Receita de Escrita e Revisando a Profissão de Revisor. É sócia-proprietária da Editora Ponto Vital (PR) e professora de Escrita do Solar do Rosário em Curitiba.

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