Os Banshees de Inisherin traz embate trágico entre dois amigos – FILMES, por Rudney Flores

 em Colunistas, Cultura, Rudney Flores

Uma produção calcada no teatro do absurdo é um dos principais concorrentes ao Oscar deste ano. Dirigido por Martin McDonagh e principal lançamento da semana nos cinemas do Brasil, Os Banshees de Inisherin foi indicado à nove estatuetas douradas: melhor filme, diretor, ator principal (Colin Farrell), atores coadjuvantes (Blendan Gleeson e Barry Keoghan), atriz coadjuvante (Kerry Condon), roteiro original, edição e trilha sonora original.

Incensado novamente por boa parte da crítica, assim como fora em Três Anúncios para um Crime (vencedor de dois Oscars – melhor atriz para Frances McDormand e ator coadjuvante para Sam Rockwell, e mais outras cinco indicações), o diretor inglês entrega mais uma vez um trabalho inferior ao seu melhor e primeiro longa-metragem, In Bruges (o qual tem o péssimo título nacional de Na Mira do Chefe), que tem a mesma dupla de protagonistas de Banshees – Farrell e Gleeson.

A história se passa na Irlanda, na fictícia ilha de Inisherin (pronuncia-se inichérim), no início da década de 1920, no período da guerra civil do país. Pádraic Súilleabháin (Farrell) vai ao encontro do amigo Colm Doherty (Gleeson) e o chama para tomarem a tradicional cerveja da tarde e jogarem conversa fora, como fazem todos os dias. Mas Colm dá a Pádraic uma notícia que o deixará abalado: não gosta mais dele e nunca mais quer falar com o parceiro de copo. O motivo principal é que Colm, um músico, pretende terminar uma canção que será o seu legado para o mundo, e para isso não quer mais distrações, como as conversas com Pádraic, o qual sempre achou chato e que nada acrescentou à sua vida.

Seguindo uma tênue linha entre o ingênuo e o idiota, Pádraic não entende o desejo do antigo amigo e insiste na proximidade, o que irá envolver medidas drásticas, como dedos decepados pelo lado do músico, mesmo que isso prejudique sua arte. Como indica os banshees do título (na mitologia celta, as banshees são fadas malignas), a história acaba caminhando para o trágico.

O texto teatral de Mcdonagh – área da qual é originário como dramaturgo – é ornado por algumas belas paisagens irlandesas. Há ainda algumas referências à falta de comunicação entre as pessoas (também representada pela guerra que acontece ao longe) e à solidão, mas a maioria das sequências só se salva do tédio pelo ótimo trabalho dos atores, todos devidamente indicados ao Oscar.

Os coadjuvantes Kerry Condon (Três Anúncios para um Crime), que interpreta a serena Siobhán, a irmã de Pádraic, e Barry Keoghan (Eternos) como Dominic, o bobo da cidade, ganham seus momentos de maior destaque, mas é o embate entre a dupla principal que sustenta todo o filme. Em sua primeira indicação à estatueta, Farrel comprova seu amadurecimento como ator, sendo um dos favoritos da categoria principal, ao lado de Brendan Fraser (A Baleia); mas quem brilha mesmo é o experiente Gleeson, que domina a tela em cada cena que aparece – merecia a indicação a ator principal, mas pelos caprichos da Academia foi para a categoria coadjuvante, que tem como favorito Ke Huy Quan, de Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo. Cotação: Bom.

Trailer de Os Banshees de Inisherin:

 

O fim do mundo

Night Shyamalan segue sua trajetória no cinema com mais um suspense, Batem à Porta, uma das principais estreias da semana. Assim como seu filme anterior, Tempo, baseado em uma HQ, o cineasta, que marcou a carreira com alguns ótimos roteiros próprios e originais (O Sexto Sentido, Corpo Fechado, Fragmentado), baseia a nova produção em um material já existente, no caso o livro O Chalé do Fim do Mundo, do escritor Paul Tremblay.

A história segue uma linha apocalíptica e apresenta uma família sendo ameaçada por algo que não compreende. O casal Eric (Jonathan Groff, o Rei George do musical Hamilton) e Andrew (Ben Aldridge, de Fleabag) vai passar uns dias de descanso com a filha adotada Wen (Kristen Cui) em uma cabana isolada. Enquanto caça gafanhotos em uma manhã, a menina é abordada por Leonard (Dave Bautista, o Drax da franquia Guardiões da Galáxia). O homem anuncia que quer conhecer seus pais e bate à porta da casa em companhia de Redmont (Rupert Grint, o eterno Ron Weasley da saga Harry Potter), Sabrina Nikki (Amuka-Bird, de Tempo) e Ardiane (Abby Quinn, da última temporada da série Louco por Você).

O casal não os deixa entrar e o quarteto invade o local trazendo uma revelação aterradora: a harmonia da família perfeita deve ser interrompida e um dos três – Eric, Andrew ou Wen – deve ser escolhido para ser sacrificado e salvar toda a humanidade, evitando o apocalipse. Mas a escolha de quem deve morrer cabe apenas à família, e o quanto mais adiarem a decisão, o mundo sofrerá com pragas que irão matar todas as suas mais de 7 bilhões de pessoas, sobrando apenas o casal e sua filha como testemunhas. Para ser convencida, a família é exposta a um pesado terror psicológico.

O mote do filme está em descobrir se a história contada por Leonard e companheiros é verdadeira ou um delírio religioso ou mesmo uma perseguição homofóbica – a história anterior de Eric e Andrew se unindo e lutando contra preconceitos é mostrada em rápidos flashbacks.

Batem à Porta também apresenta uma estrutura semelhante a outro suspense apocalíptico, o ótimo Rua Cloverfield, 10 (neste outro, o fim do mundo chega através de uma possível invasão alienígena). Mas, assim como em Tempo, Shyamalan mais uma vez não consegue ser ousado e entrega uma produção que não traz maiores surpresas, apesar das tensas sequências de suspense e boas interpretações do elenco. O cineasta poderia ter se desvinculado do material original e explorado mais profundamente o tema central, principalmente em tempos de fundamentalismo religioso nos Estados Unidos e em boa parte do mundo, incluindo o Brasil. Cotação: Bom.

Trailer de Batem à Porta:

 

Outras estreias

Uma das maiores sambistas do Brasil tem sua trajetória revelada no documentário Andanças – Os Encontros e as Memórias de Beth Carvalho, do diretor Pedro Bronz. As imagens do filme são registros realizados pela própria artista, morta em 2019, em vários momentos de sua vida e revelam, além da carreira na música – na qual também revelou nomes como Zeca Pagodinho e Arlindo Cruz –, sua atuação política. Em destaque, conversas com padrinhos e influências como Cartola e Elizeth Cardoso. A produção tem lançamento no Cine Passeio.

Trailer de Andanças – Os Encontros e as Memórias de Beth Carvalho:

O filme russo Gemini – O Planeta Sombrio, dirigido por Serik Beyseu, segue a linha da franquia Alien e apresenta uma história de terror no espaço. Emulando a batida trama da humanidade acabando os recursos na Terra, uma missão é enviada para investigar um novo planeta que pode para abrigar os humanos. Chegando lá, tudo dá errado e a tripulação precisa enfrentar uma poderosa força extraterrestre.

Trailer de Gemini – O Planeta Sombrio:

 

Baseado nas histórias do personagem criado pelo escritor inglês de fantasia Terry Prachett, a animação O Grande Mauricinho, do diretor Toby Genkel (Missão Cegonha) traz aventuras de um gato falante e muito malandro. Mauricinho (voz de Marcelo Adnet na versão brasileira) oferece seus serviços para acabar com roedores da cidade de Bad Blintz e conta com a parceria da intrépida Marina (voz de Sophia Valverde) e de um abobado flautista nessa missão.

Trailer de O Grande Mauricinho:

 

Em todos os lugares

Um dos filmes mais surpreendentes dos últimos anos, Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo, dos diretores Dan Kwan e Daniel Scheinert, que assinam como os Daniels, é a produção com mais indicações ao Oscar deste ano: 11 – melhor filme, direção, atriz principal (Michelle Yeoh), atrizes coadjuvantes (Jamie Lee Curtis e Stephanie Hsu), ator coadjuvante (Ke Huy Quan), roteiro original, edição, figurino, música e trilha sonora original.

Na esteira dessas nomeações, a produção, lançada em junho de 2022 no Brasil, volta ao cartaz no país em algumas salas – em Curitiba, no Cinemark Mueller e Cinépolis Pátio Batel. O inventivo filme dos Daniels, também responsáveis pelo roteiro, fala de multiversos em uma história que destaca vários gêneros – ação, aventura, comédia, drama – que funcionam perfeitamente em uma incrível combinação.

Trailer de Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo:

 

Crédito da foto: Divulgação/20th Century Studios

 

Rudney Flores é jornalista formado pela PUCPR, assessor de imprensa e crítico de cinema, com resenhas publicadas nos jornais Gazeta do Povo e Jornal do Brasil.

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