Qual o Segredo do Mar? – COLUNA RECEITA DE ESCRITA, por Cláudia Moreira

As ondas iam e vinham. Parei para observar a força e o barulho gostoso que me embalava na rede. Reparei na espuma que nascia quando o mar beijava a areia. Vi a irregularidade das águas e como elas se debatiam umas contra as outras em determinados pontos do oceano. Era uma obra de arte a céu aberto. O azul não terminava nunca. A orquestra estava formada: pássaros, vento, pedras sendo acarinhadas, sussurros da natureza que me hipnotizavam. Fiquei ali um bom tempo… só apreciando os movimentos da vida.

Aliás, o mar é uma boa metáfora para a vida, não é? Umas vezes aparece bravio; outras, como uma piscina. Ondas parceiras e alternadas. Nem sempre é assim. Elas também brigam e se chocam em fúria. Imagina se tudo fosse certinho, rotineiro, cíclico… não seria chato? A mesmice não traz mudanças, mas o contrário nos força à reinvenção. As águas ensinam e nem precisam falar. Apesar de que as crianças escutam sua voz. Como assim?

Tenho a história de um menino que me disse que o mar vivia lhe contando coisas. Fiquei muito curiosa e quis saber sobre as coisas do mar. A criança correu de mim, gritando: é segredo, tia, é segredo. Qual o segredo do mar? Por que ele nos encanta? Por que ele nos dá medo? Por que ele nos traz instantes de felicidade? Por que ele mata?

Meus devaneios foram se enrolando com as ondas… sono, talvez? Já não sabia ao certo o que pensar. Parecia que Iemanjá me colocava no colo e me ninava, cantando canções envolventes. Comecei a ir para o mar, como se eu fizesse parte dele e como tal, respirava lá dentro, como se isso fosse possível. Pirei! A fantasia tomou conta…

Quando dei por mim, o mar continuava ali, agora sereno. Meus pensamentos também estavam em ordem, limpos, como se tivessem mergulhado em águas profundas e se embebido da sabedoria eterna. Voltei à superfície de mim mesma. A rede mantinha o balanço calmo. O coração batia em ritmo lento. A vida estava seguindo o curso. Desta vez, com marolinhas cadenciadas que me recordavam a infância, onde tudo parecia uma doce brincadeira e uma tremenda tranquilidade. Qual o segredo do mar? Se você descobrir, conte-me, por favor.

Ilustração: @igor.baldez

Cláudia Moreira é mestranda em Escrita Criativa (Uniandrade/PR), formada em Letras e Jornalismo (Uniceub- DF), com especializações em Revisão e Produção Textual (FAE-PR), Desenvolvimento Sustentável (UNB-DF) e Master em Jornalismo (IICS-SP). Tem vários livros publicados, entre eles, Receita de Escrita e Revisando a Profissão de Revisor. É sócia-proprietária da Editora Ponto Vital (PR) e professora de Escrita do Solar do Rosário em Curitiba.