Shazam! Fúria dos Deuses destaca aventura irregular e confusa em momento de transição da DC no cinema – FILMES, por Rudney Flores
O universo dos heróis da DC nos cinemas passa por momentos de várias mudanças com a contratação, no final de 2022, de James Gunn para comandar as produções do estúdio Warner/DC. O diretor promete uma revolução para os míticos heróis da editora nas telas, criando um novo universo compartilhado que não seguirá aquele criado pelo diretor Zack Snyder em filmes como Batman vs Superman – A Origem da Justiça e Liga da Justiça, e que deverá começar com uma nova aventura do Superman, prevista para 2025, e que ele mesmo irá comandar. A expectativa é grande e positiva, pois o cineasta é responsável pelos divertidos filmes Guardiões da Galáxias, na concorrente Marvel, e do ótimo reboot da franquia Esquadrão Suicida para a própria Warner/DC.
Enquanto o novo direcionamento não se inicia, o estúdio vai lançar este ano alguns filmes que já estavam finalizados antes da chegada de Gunn, e o primeiro é Shazam! Fúrias dos Deuses, principal estreia desta semana no Brasil, a continuação do filme original do poderoso herói, realizada em 2019 – os outros lançamentos de 2023 são The Flash e Aquaman 2.
A produção tem novamente o comando de David F. Sandberg e resgata a equipe de Shazams do filme anterior. O conflito principal, mas sem maior desenvolvimento, acontece com Billy Batson (Asher Angel), que vive uma crise pessoal prestes a completar 18 anos, idade com a qual teria que sair do lar que o acolheu. Como seu alter-ego Shazam (Zachary Levi), ele também passa por dificuldades em manter a união dos outros parceiros de lar adotivo, que também têm superpoderes, cedidos pelo próprio Billy.
O grupo precisará se unir para combater um trio de irmãs vilãs, as Filhas de Atlas – Hespera (Helen Mirren, Oscar de melhor atriz por A Rainha), Kalypso (Lucy Liu, de Kill Bill – Vol. 1) e Anthea (Rachel Zegler, da nova versão de Amor, Sublime Amor). Elas são poderosas deusas que surgem sem muitas explicações no início da história – depois de um tempo, sua aparição é apenas relacionada a um fato do final do primeiro filme. Sua intenção é se vingar dos humanos e restaurar seu reino, depois de serem aprisionadas por milhares de anos. Quem também reaparece com poucas e fracas explicações dos motivos é o mago Shazam (Djimon Hounsou, de Diamante de Sangue), que teria morrido no original, mas descobre-se logo no início do filme que não.
Fúria dos Deuses segue com o tom cômico da franquia, claramente com a intenção de se manter como uma diversão para toda a família, com muita aventura, magia e ação, em um estilo que remete aos filmes da franquia Harry Potter, mas longe do mesmo brilho.
Mas o roteiro é confuso, com as vilãs pouco desenvolvidas – Helen Mirren até fez piada sobre o tema em um programa inglês de entrevistas (The Graham Norton Show), dizendo que pouco entendeu a história do filme, assim como em outras produções de heróis que já viu. Helen e Lucy se esforçam em seus papéis, mas não parecem à vontade com o texto e o figurino que são obrigadas a usar. Há ainda uma estranha distância das interpretações de Billy e Shazam – enquanto Angel vive um jovem que amadurece, sua versão heroica de Levi ainda segue como o adolescente do filme anterior.
Em breve momento, as relações familiares são lembradas e fortalecidas. E também há um grande merchandising de um doce, em meio às batalhas nas ruas das Filadélfia. Nesse cenário, o único que chega a brilhar mesmo no filme é Freddy (o bom ator Jack Dylan Grazer, dos novos filmes It – A Coisa e de Querido Menino), que acaba formando par romântico com Anthea. Na parte da ação, Fúrias dos Deuses, abusa do CGI em cenas de guerra barulhentas e genéricas, que destroem a Filadélfia, cidade norte-americana lar dos heróis.
O final traz uma nova aparição surpresa, assim como já tinha acontecido em Adão Negro, a malfadada e já abortada entrada de Dwayne Johnson nos filmes da DC. Já uma das cenas pós-créditos apresenta a possibilidade de conexão de Shazam com o futuro universo compartilhado a ser criado por James Gunn. A outra abre caminho para um terceiro filme, mas será preciso trabalhar muito na história para reavivar a franquia. Cotação: Regular.
Trailer de Shazam! Fúria dos Deuses:
Crédito da imagem: Divulgação/Warner Bros. Pictures Brasil
Rudney Flores é jornalista formado pela PUCPR, assessor de imprensa e crítico de cinema, com resenhas publicadas nos jornais Gazeta do Povo e Jornal do Brasil.