Robert Eggers investe na força das lendas nórdicas em O Homem do Norte – FILMES, por Rudney Flores

 em Colunistas, Cultura, Rudney Flores

Festejado pelo novo terror de A Bruxa e pelo belo mergulho psicológico de O Farol, o diretor Robert Eggers investe em um novo caminho em sua mais recente produção, O Homem do Norte, uma das principais estreias da semana nos cinemas brasileiros.

O filme é um projeto antigo do ator sueco Alexander Skarsgård (A Lenda de Tarzan), que sonhava em realizar uma produção com elementos das lendas e sagas nórdicas e do mundo viking, que estiveram presente em sua a infância. Ele encontrou em Eggers o caminho para contar essas histórias, em parceria com o roteirista islandês Sjón (coautor do texto de Dançando no Escuro, de Lars von Trier).

Baseado principalmente em lendas islandesas, O Homem do Norte é ambientado no final do século 9 e início do 10 e apresenta a história Amleth (Skarsgård, quando adulto), herdeiro do fictício reino de Hrafnsey, que vê ainda muito novo seu pai, o rei Aurvandil (Ethan Hawke, de Boyhood) ser assassinado por seu tio, o bastardo Fjörnir (Claes Bang, de The Square – A Arte da Discórdia), o qual ainda sequestra sua mãe, a rainha Gudrún (Nicole Kidman, Oscar de melhor atriz por As Horas). O menino consegue fugir jurando vingança a Fjörnir e cresce em um grupo de saqueadores, tornando-se um forte e marombado guerreiro.

Ao saber que o algoz de seu pai perdeu o reino conquistado para a Noruega e se refugiou na Islândia, Amleth – guiado pela visão de uma bruxa interpretada pela cantora Björk, voltando ao cinema depois muitos anos – decide ir ao seu encontro para cumprir seu destino de matá-lo, vingar o pai e salvar sua mãe. Ele finge ser um escravo e consegue ser comprado por Fjörnir, que desconhece sua real identidade. Nas terras islandesas, Amleth ainda se envolve com a escrava eslava Olga (Anya Taylor-Joy, grande sucesso recente na série O Gambito da Rainha), que irá ajudá-lo em seus planos.

A história também tem fortes ligações com Hamlet, de Shakespeare, que por sua vez tem sua origem em um texto de história dinamarquesa do século 12, de Saxo Grammaticus. Séculos depois, a animação de sucesso O Rei Leão também utilizou os mesmos elementos.

Baseado em muitas pesquisas históricas, Eggers apresenta um interessante mundo onde impera uma grande violência, ao mesmo tempo em que também é dominado por muito misticismo, com bruxas e diversas visões por parte dos personagens – apresentados através de diversos especiais.

Ele ainda constrói algumas belas imagens aproveitando-se do impressionante cenário islandês. Mas o filme se torna um tanto arrastado em suas mais de duas horas de duração. Com exceção da rainha Gudrún Nicole Kidman – que brilha em uma cena de revelação na história –, há pouca profundidade nos personagens – a vingança cega de Amleth guia quase toda a trama.

Com uma produção de muito porte em mãos, o diretor fez um trabalho para agradar as grandes plateias apreciadoras de blockbusters, sem grandes riscos. Faltou o investimento no lado psicológico que tem marcado sua carreira como cineasta e o que o fez ser celebrado.  Cotação: Bom.

Trailer de O Homem do Norte:

 

Cage em divertida metalinguagem

Apesar de ter um Oscar por Despedida em Las Vegas, ser astro de grandes filmes de ação como A Rocha e A Outra Face, e ter sido elogiado por ótimas atuações em filmes como Arizona Nunca Mais e Adaptação, Nicolas Cage está se tornando cada vez mais conhecido pelas recentes bombas que tem participado no cinema nos últimos anos.

Em uma cena de O Peso do Talento, outra estreia importante da semana, Cage alega que faz tantos filmes ruins por ter família para sustentar – mas não cita que também precisa bancar suas extravagâncias (compra de carros de luxo, quadrinhos como o Superman nº 1, fósseis, entre outras). Isso porque na produção comandada pelo diretor Tom Gormican, Cage, em um divertido exercício de metalinguagem, interpreta a si mesmo, o ator Nick Cage, que não é exatamente sua real persona, mas tem muito dela.

Na história, inicialmente, o ator tenta de toda forma ser escolhido para um filme que teria tudo para ser um dos grandes trabalhos para sua carreira, mas é preterido. Na vida pessoal, ele não se dá bem com a ex-esposa Olivia (Sharon Horgan) e a filha Addy (Lily Mo Sheen). Quase falido, se vê obrigado a aceitar participar por muito dinheiro do aniversário do milionário espanhol Javi Gutierrez (Pedro Pascal, da série The Mandalorian), um grande fã. Ao chegar na ilha do seu contratante, Cage é abordado por agentes da CIA, que alegam que Gutierrez é um grande traficante de armas. E pedem sua ajuda para prendê-lo. O problema é que Nick se afeiçoa a Javi, e a dupla passa a viver um quase bromance, o que dificulta a ação contra o novo amigo. Mas as situações suspeitas do parceiro o obrigam a agir.

Adicionando mais metalinguagem à produção, essa é a senha para o ator emular muito divertidamente vários dos personagens de seus filmes de ação, dos quais Javi tem uma vasta memorabilia em sua coleção – muita da diversão do filme está em perceber as diversas citações aos filmes do astro. Cage ainda tem como guru e conselheiro um outro eu imaginário e amalucado, que veste sempre a camisa do filme Coração Selvagem, outro de seus grandes sucessos.

Assim como o Cage dos últimos anos, O Peso do Talento não é para ser levado muito a sério. O humor é exagerado, frenético, como o próprio ator, que parece conseguir rir de si mesmo em vários momentos. Diversão sem muitas pretensões, que deve agradar iniciados e não iniciados na trajetória do astro. Cotação: Bom.

Trailer de O Peso do Talento:

 

Policial na Tríplice Fronteira

O diretor argentino Roly Santos retorna de um período de mais de duas décadas sem filmar um longa-metragem de ficção com Águas Selvagens, uma coprodução argentina e brasileira com elenco formado por atores sul-americanos e brasileiros.

O protagonista da história é Lúcio Gualtieri, vivido pelo ator uruguaio Roberto Birindelli, radicado no Brasil. Um ex-policial, ele é contratado pelo empresário Quiroga (Luiz Guilherme) para investigar o brutal assassinato de seu irmão na região da Tríplice Fronteira (Brasil-Paraguai-Argentina). Gualtieri vai se envolvendo com diversos locais, que incluem três mulheres: a prostituta Debora (Leona Cavalli, de Amarelo Manga), a camareira Blanca (Allana Lopes, estreando nas telas) e a misteriosa Rita (Mayana Neiva, de O Silêncio da Chuva).

Há uma tentativa de emular os tradicionais filmes noir, mas que nunca chega a se concretizar. A cada pista investigada aparecem novas revelações envolvendo poderosos da região, com destaque para uma rede de pedofilia, tornando o caso ainda mais intricado. E esse acaba se tornando um dos problemas da produção. Várias portas vão se abrindo, mudando a história de direção várias vezes, mas tudo vai acontecendo de forma abrupta, sem maiores desenvolvimentos.

Falta inspiração e mais ação à trama, dirigida de forma burocrática por Santos, e com atuações sem destaques do elenco em geral. Com tantas pontas soltas, o final da história acaba sendo corrido e mal engendrado. Cotação: Regular.

Trailer de Águas Selvagens:

 

Uma vida real

Conhecida nacionalmente por seus vários pontos turísticos, como o Olho do Museu Oscar Niemeyer e o Jardim Botânico, entre outros parques, Curitiba quase não tem retratada em imagens sua periferia. O olhar para essa região menos favorecida, que também existe na capital paranaense, que muitos ainda consideram de primeiro mundo, é uma das principais características de Mirador, longa-metragem de estreia do diretor Bruno Costa, que entra em sua segunda semana de exibição no Cine Passeio.

É nessa região distante da cidade que vive Maycon (Edilson Silva, de Bacurau), migrante pernambucano que trava muitas batalhas na vida. Enquanto sobrevive de pequenos bicos como descarregador de caminhões ou lavador de pratos de restaurante, ele sonha em voltar a lutar boxe, esporte que havia abandonado por um tempo.

Maycon tem uma filha, Malu (Maria Luiza da Costa), com Michele (Stephanie Fernandes). Mas eles não são casados e dividem os cuidados da menina de 2 anos. Um dia, a moça decide ir embora sem deixar nenhum aviso e cabe ao boxeador, sem muito jeito, criar sozinho a pequena.

A partir dessa premissa, do pai solitário e sua cria, já foram realizadas algumas produções cheias de dramas de superação no cinema – O Campeão, com Jon Voight; Kramer vs. Kramer, com Dustin Hoffman; À Procura da Felicidade, com Will Smith. Mas o roteiro criado por Souza e William Biagioli foca mesmo na sequência do cotidiano simples de Maycon.

Ele mantém seus bicos – aos quais acrescenta, eventualmente e a contragosto, o trabalho de michê de casais de swing – e também os treinos para uma luta que se aproxima. Ao mesmo tempo, continua cuidando de Malu com a pequena ajuda do companheiro de morada (vivido por Luiz Carlos Pazzello), além da avó da menina, Leila (Giovana Soar) – uma bonita cena com mais emoção acontece apenas uma vez, com o protagonista cantando uma simples canção para a filha.

Esse interessante e honesto retrato da crueza da vida real agradou plateias e júris de diversos festivais, e o filme conquistou prêmios, como no Festival Regional e Internacional de Cinema e Guadalupe (Caribe) – prêmio especial do júri; no Ibero-American Film Festival Miami – melhor longa-metragem de ficção; e no Festival de Cinema de Vitória – melhor filme pelo júri popular. Cotação: Bom.

Trailer de Mirador:

 

A Praga de Zé do Caixão

O Cine Passeio apresenta nesta Sexta-feira 13, na chamada Sessão da Meia-Noite, o filme A Praga, realizado por José Mojica Marins, o Zé do Caixão, em 1980, mas inacabado na época. A produção foi recuperada e restaurada por Mojica e o produtor Eugênio Puppo em 2007.

Na história, durante um passeio pelo campo, Marina (Sílvia Gless) e Juvenal (Felipe Von Reno) param para tirar fotos em frente à casa de uma estranha idosa que, irritada com a presença do casal, revela-se uma bruxa (Wanda Kosmo) e joga uma maldição em Juvenal.

Após a morte do ícone do cinema de terror e horror brasileiro e mundial, em 2020, Puppo retomou o projeto e criou uma versão definitiva, incluindo nova trilha sonora e remontando trechos. O novo A Praga estreou mundialmente em 2021, no 54º Festival de Cinema de Sitges, na Espanha, um dos maiores eventos de filmes de horror do mundo.

É essa versão que poderá ser acompanhada pelo público curitibano nas salas Luz e Ritz do Cine Passeio. As sessões estão acontecem nas duas salas, às 23 horas de sexta-feira, e também à 0h30 do sábado (14). Antes da exibição do filme principal, será apresentado o documentário de curta-metragem A Última Praga, de Cédric Fanti, Eugenio Puppo, Matheus Sundfeld e Pedro Junqueira.

Trailer de A Praga:

 

Outras estreias

Baseado em fatos reais, Klondike – A Guerra na Ucrânia, da diretora Maryna Gorbach, não é sobre o conflito atual no leste europeu, mas sobre a guerra que aconteceu na região de Donbas, no sul e leste do país (na fronteira com a Rússia), em 2014, quando separatistas pró-Rússia das cidades de Donetsk e Lugansk proclamaram suas respectivas repúblicas rebeldes.

No filme, os ucranianos Irka e Tolik vivem exatamente na região desse conflito. Ela está grávida e não quer abandonar sua casa, mesmo quando o vilarejo onde vivem é tomado por forças armadas. As coisas ficam ainda mais complicadas quando um avião civil é abatido e cai próximo da moradia do casal. O filme estreia apenas no Cine Passeio.

Trailer de Klondike – A Guerra na Ucrânia:

 

O premiado diretor Laurent Cantet, vencedor da Palma de Ouro do Festival de Cannes pelo ótimo Entre os Muros da Escola, em 2008, está lançando sua mais recente produção, @Arthur.Rambo – Ódio nas Redes. Na trama, Karim D. (Rabah Nait Oufella) é um escritor que consegue muito sucesso com o lançamento de um comovente livro. Mas, ao mesmo tempo, as pessoas descobrem as diversas mensagens de ódio que o autor espalha nas redes sociais, através do pseudônimo Arthur Rambo. Quem é a pessoa verdadeira, Karim ou Arthur? A produção tem lançamento apenas no Cine Passeio.

Trailer de @Arthur.Rambo – Ódio nas Redes

 

No terror australiano Crocodilos – A Morte te Espera, do diretor Andrew Traucki, um grupo de amigos decide explorar um quase inacessível sistema de cavernas, localizado nas florestas do norte do maior país da Oceania. Mas, após a descida, o local começa a inundar e revela a presença de ameaçadores crocodilos e os aventureiros vão precisar passar por muitas dificuldades para tentar sobreviver. A produção tem sessões programadas no Cinépolis Jockey Plaza e nos UCI Estação e Palladium.

Trailer de Crocodilos – A Morte te Espera:

 

Atração do canal pago Discovery Kids, a série de animação Meu AmigãoZão ganha seu primeiro longa-metragem nos cinemas. Em Meu AmigãoZão – O Filme, o trio de protagonistas Yuri, Lili e Matt não deseja ir para uma colônia de férias que seus pais escolheram, pois não conhecem nenhuma outra criança que irá participar do encontro. Por isso, eles decidem fugir para um mundo de fantasia na companhia dos Amigãozões Golias, Nessa e Bongo. Lá, eles precisam enfrentar o vilão Duvi Dudum, que quer impedir que todos possam se divertir. O desenho tem lançamento no Cinemark Mueller, Cinépolis Jockey Plaza, UCI Estação.

Trailer de Meu AmigãoZão – O Filme:

 

Crédito da foto: Divulgação/Universal Pictures

 

Rudney Flores é jornalista formado pela PUCPR, assessor de imprensa e crítico de cinema, com resenhas publicadas nos jornais Gazeta do Povo e Jornal do Brasil.

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